Resumo
O mês de março de 2025 foi marcado por um aumento da incerteza no cenário econômico, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, impactando diretamente o desempenho das carteiras de investimento. As políticas de Donald Trump, a inflação persistente e as mudanças nas expectativas dos consumidores foram fatores determinantes.
Internacional
Em um primeiro momento após a eleição de Donald Trump, cresceram as expectativas de aceleração do crescimento americano. Os “espíritos animais” se renovaram, com a perspectiva de desregulação, desburocratização e impostos baixos. Bolsas, juros e dólar subiram bastante. A partir de fevereiro, tudo se inverteu. E a confiança dos consumidores desabou. Tal reviravolta tem a ver com o brutal aumento das incertezas provocado pelas idas e vindas do presidente. Membros da equipe econômica dão a entender que eles têm um plano. Parecem claros, porém, os sinais de que tal plano não tem consistência e que dele resultará uma significativa desaceleração da atividade econômica mundial.
Brasil
No Brasil, a atividade econômica iniciou 2025 impulsionada pelos ventos de 2024, com a agropecuária se destacando. A indústria geral em janeiro ficou estável (0,0% MsM), com a extrativa recuando (-2,4% MsM) e a transformação avançando (+1,0% MsM). O varejo ampliado cresceu (+2,3% MsM), puxado por veículos e material de construção, enquanto o restrito recuou levemente (-0,1% MsM). O setor de serviços se retraiu (-0,2% MsM), refletindo fragilidades em serviços às famílias. O IBC-Br teve alta de 0,89%. A expectativa é de que o PIB do 1º trimestre de 2025 cresça 1,5% (+3,0% YoY), devido ao excelente desempenho da agropecuária. Para o ano como um todo, a expectativa é de uma expansão de 1,7%.
Os resultados de confiança obtidos em fevereiro de 2025 confirmam a reversão de tendência dos índices, tanto de empresas quanto de consumidores. A piora recente, com mais intensidade nos consumidores, sugere que o ritmo de 2024 ficou para trás e indica pessimismo com o ritmo dos próximos meses. A manutenção do cenário macroeconômico desafiador deve manter a trajetória de desaceleração da confiança.
A mais recente edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) mostrou que, em janeiro de 2025, a taxa de desemprego encerrou o trimestre móvel em 6,5%, valor ligeiramente abaixo do projetado pelo FGV IBRE. Quando ajustada sazonalmente, a taxa permaneceu em 6,5%, ainda superior à dos meses anteriores. Para fevereiro, projeta-se nova elevação, indicando que o mercado de trabalho segue em processo de desaceleração, influenciado pela política monetária mais restritiva. A estabilidade recente da taxa de desocupação mascara uma queda significativa da taxa de participação, indicando que menos pessoas estão em busca de emprego. Em contrapartida, os dados do Caged mostraram saldo positivo de 137,3 mil vagas em janeiro, acima das expectativas. Para fevereiro, as projeções apontam para 173,2 mil novas vagas, o que, após ajuste sazonal, resultaria em cerca de 21,9 mil vagas, reforçando a visão de um mercado de trabalho que cresce de forma mais moderada.
A inflação dos alimentos seguirá pressionada em 2025, mesmo com a valorização do real e a expectativa de uma safra mais forte. Fatores climáticos, alta nos custos logísticos e demanda resiliente sustentam a previsão de aumento de 10% na alimentação no domicílio ao longo do ano. O descompasso entre oferta e demanda eleva os preços, exigindo estratégias mais eficientes de gestão no setor agropecuário. Além disso, choques setoriais, como a disparada dos preços dos ovos, ilustram a complexidade do cenário.
Após a confirmação do ajuste de 100 pontos-base da taxa Selic, em março, sinalizado ainda no ano passado, as atenções se voltam para a decisão do Copom de maio. São três as principais razões para acreditar que é baixa a probabilidade de a decisão de maio transmitir um sinal fraco, tipo uma alta de apenas 25 pontos: a) em janeiro, foi a primeira decisão do Copom sob o comando do novo presidente do BC, algo sugestivo de que o primeiro movimento será de firmeza; b) melhor trabalhar com a hipótese de que a desaceleração da atividade será lenta, e não forte e abrupta; e c) possivelmente maio ainda será cedo para o BC dar margem para que o mercado interprete o seu movimento como o início da interrupção do ciclo de alta dos juros, dado que as expectativas e a própria inflação ainda estarão bem distantes da meta oficial.
Os indicadores de gestão da dívida pública federal têm apresentado piora gradual nos últimos anos, em função do crescimento da dívida e da piora das condições de mercado, o que requer menor exposição a riscos e maior liquidez. Apesar dessa piora, os indicadores apresentam uma posição melhor do que em períodos passados em que os montantes de dívida eram próximos aos observados atualmente, como no início dos anos 2000. De qualquer forma, em 2025, a dívida pública deverá ser pressionada porque a taxa de juros média estará mais elevada do que a observada em 2024, o crescimento econômico este ano deverá ser um pouco menor e o resultado primário não deve apresentar melhora significativa, em função da meta de resultado primário ser a mesma, mas com um volume de descontos um pouco maior.
O primeiro bimestre registrou queda no superávit da balança comercial, em relação a igual período do ano anterior, de US$ 11,3 bilhões para US$ 1,9 bilhão. A principal contribuição para esse resultado veio do comércio com a China, com a passagem de um superávit brasileiro de US$ 5 bilhões (jan-fev 2024) para um déficit de US$ 3,2 bilhões (jan-fev 2025). O recuo nas exportações das principais commodities e a compra de uma plataforma flutuante ajudam a explicar o resultado.
Considerações Finais
Em resumo, o desempenho da carteira em março de 2025 foi influenciado por uma combinação de fatores domésticos e internacionais. No Brasil, a desaceleração da atividade econômica, a persistência da inflação e a incerteza fiscal exigiram uma postura cautelosa. No cenário internacional, as políticas comerciais de Donald Trump e a evolução da inflação americana trouxeram volatilidade e exigiram uma análise cuidadosa dos riscos e oportunidades. www.setecapitalrpps.com.br | www.confiancainvest.com.br [email protected] | [email protected] (62) 3924-6211 | Av. T-9, 2310, Sala 1603-A, Jardim América, Goiânia – GO, 74.255-220
LEGENDA
MsM (Month over Month): Significa “Mês sobre Mês”. Essa sigla é usada para comparar o valor de um determinado indicador em um mês específico com o valor do mês anterior. Por exemplo, se você vir “Indústria cresceu 0,0% MsM”, isso significa que a produção industrial do mês atual não apresentou variação em relação ao mês anterior.
YoY (Year over Year): Significa “Ano sobre Ano”. Essa sigla é usada para comparar o valor de um determinado indicador em um mês ou trimestre específico com o valor do mesmo mês ou trimestre do ano anterior. Por exemplo, se você vir “PIB cresceu 3,0% YoY”, isso significa que o Produto Interno Bruto cresceu 3,0% em relação ao mesmo período do ano anterior.