Agosto em Números

  1. Destaques

Cenário Brasil: No mês de agosto, a economia brasileira demonstrou moderação da atividade e desaceleração da inflação, com expectativas de mercado em melhora. O agronegócio, apesar da forte produção, tem enfrentado desafios de inadimplência e recuperações judiciais. A política fiscal tem apresentado fragilidades e incertezas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de agosto foi de -0,11%, 0,37 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de 0,26% de julho. No ano, o IPCA acumula alta de 3,15% e, nos últimos 12 meses, o índice ficou em 5,13%, abaixo dos 5,23% dos 12 meses imediatamente anteriores.

Cenário Internacional: O debate sobre a autonomia do Fed nos EUA tem gerado incertezas institucionais, mas o otimismo em relação a cortes de juros impulsionou os mercados acionários. O dólar globalmente enfraquecido favorece o real, mas riscos geopolíticos e fiscais persistem.

Bolsa Brasileira: A maior expectativa de cortes de juros nos EUA pode direcionar fluxos de capital para países emergentes, como o Brasil, que impulsionaria uma nova onda de valorização na bolsa brasileira.

Projeções: Em agosto, as expectativas de mercado para o Brasil foram revisadas para baixo, com destaque para a inflação e o câmbio nos próximos anos, enquanto as projeções de curto prazo indicam estabilidade na expectativa para taxa Selic. 

  1. Cenário Brasil

A economia brasileira apresentou sinais de desaceleração da atividade em agosto de 2025, conforme indicado por diversos indicadores. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,10% em junho, acumulando alta de apenas 0,3% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Essa perda de dinamismo foi atribuída à acomodação do setor agropecuário, que impulsionou o crescimento no início do ano, e ao enfraquecimento da indústria, impactada pelos juros elevados e pelo crédito mais caro.

Os setores de varejo e serviços também sentiram os efeitos do aperto monetário, das restrições de crédito e do endividamento familiar. Apesar disso, a resiliência do mercado de trabalho, os estímulos governamentais e o pagamento de precatórios em julho devem mitigar parte dos impactos negativos sobre o consumo e a renda no segundo semestre. O Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre foi de 0,4% e com estimativa de crescimento de 2,3% para o ano de 2025. A desaceleração da atividade contribui para que o hiato do produto se torne negativo, favorecendo a convergência da inflação para a meta.

A política monetária brasileira, com a taxa Selic em 15% ao ano, permanece restritiva e a expectativa é que a Selic permaneça nesse patamar até, provavelmente, o primeiro trimestre de 2026. A flexibilização da política depende da combinação de expectativas mais bem ancoradas, hiato do produto negativo e desaceleração consistente das medidas de inflação.

No cenário fiscal, o orçamento de 2026 manteve a meta de superávit primário de 0,25% do PIB, mas há preocupações quanto à sua consistência, com receitas superestimadas e despesas subestimadas. A retirada de R$ 9,5 bilhões da meta fiscal para o programa de contingência das tarifas impostas pelos EUA fragiliza o arcabouço e reduz a credibilidade fiscal. As incertezas em torno da reforma do Imposto de Renda, que amplia a faixa de isenção, também influenciam a percepção de risco fiscal no curto prazo.

O agronegócio brasileiro, embora tenha demonstrado forte dinamismo no primeiro trimestre de 2025, com crescimento de 6,5% no PIB do setor e um salto de 16% na produção de grãos na safra 2024/2025, enfrenta desafios financeiros. A inadimplência entre produtores pessoa física atingiu 7,9% no primeiro trimestre de 2025, e os pedidos de recuperação judicial aumentaram significativamente, com 388 empresas agropecuárias em recuperação judicial entre abril e junho de 2025, um avanço de quase 60% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar disso, o volume de produtores afetados ainda representa uma parcela pequena do total, e as condições climáticas favoráveis para o próximo ciclo devem mitigar um aumento mais expressivo das recuperações judiciais.

O mercado de trabalho formal, por sua vez, registrou a criação de 129,8 mil empregos com carteira assinada em julho de 2025, abaixo das expectativas. Embora haja uma desaceleração na criação de vagas, o mercado de trabalho ainda se mostra resiliente, com a taxa de desemprego em mínimas históricas.

No que se refere ao câmbio, a taxa real-dólar no Brasil se destacou em agosto, acompanhando o enfraquecimento global do dólar, cujo índice DXY recuou quase 10% no ano. Além do maior apetite ao risco diante da expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, fatores domésticos como o elevado diferencial de juros, a bolsa brasileira ainda barata em dólares e o impacto limitado das tarifas norte-americanas favoreceram a entrada de capital estrangeiro, levando o câmbio a níveis abaixo de R$ 5,40. A projeção para o final de 2025 é de um dólar a R$ 5,65. Contudo, riscos como a fragilidade fiscal doméstica, o início do ciclo eleitoral em 2026, a possibilidade de estabilidade prolongada nos preços das commodities, as incertezas em torno da política fiscal norte-americana e riscos geopolíticos podem gerar volatilidade.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de agosto foi de -0,11%, 0,37 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de 0,26% de julho. No ano, o IPCA acumula alta de 3,15% e, nos últimos 12 meses, o índice ficou em 5,13%, abaixo dos 5,23% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2024, a variação havia sido de -0,02%. Em agosto, cinco dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados vieram com variação negativa, destacando-se os três de maior peso no índice: Habitação (-0,90%), Alimentação e bebidas (-0,46%) e Transportes (-0,27%). No lado das altas, as variações ficaram entre o 0,75% de Educação e o 0,40% de Despesas pessoais.   

  1. Cenário Internacional

O cenário internacional em agosto de 2025 foi marcado por discussões sobre a autonomia do Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos. A tentativa de interferência política, como a demissão da diretora Lisa Cook e a especulação sobre a substituição antecipada do presidente Jerome Powell, reacendeu o debate sobre a independência do banco central.

A literatura econômica sugere uma relação negativa entre a independência dos bancos centrais e a inflação média, com países de maior autonomia historicamente registrando taxas inflacionárias mais baixas. A preservação da autonomia do Fed é considerada um pilar para a manutenção da credibilidade e da estabilidade de preços no longo prazo. Apesar das preocupações, o Fed possui proteções institucionais significativas, como a exigência de “justa causa” para a remoção de seus diretores.

Paralelamente a esse debate institucional, o mercado demonstrou otimismo em relação a possíveis cortes de juros nos Estados Unidos em setembro de 2025, impulsionado por declarações mais brandas do presidente Powell. A combinação dessa expectativa, de bons resultados corporativos (especialmente das grandes empresas de tecnologia) e de indicadores que reduziram a probabilidade de recessão, levou os principais índices acionários dos EUA, como S&P500 e Nasdaq, a renovarem máximas históricas em agosto.

A inflação nos EUA, no entanto, permanece próxima de 3% em 12 meses, cerca de 50% acima da meta de 2%, e o mercado de trabalho segue operando com taxa de desemprego historicamente baixa. As expectativas de mercado apontam para a possibilidade de um corte de juros nos Estados Unidos durante as próximas reuniões do FOMC, em setembro ou outubro de 2025, com os dados de inflação e emprego sendo fundamentais para indicar os rumos da política monetária. 

  1. Bolsa Brasileira

O mercado acionário brasileiro tende a se beneficiar do maior apetite ao risco dos investidores estrangeiros uma vez que o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos for iniciado. A perspectiva de corte de juros no Brasil em 2026 pode atuar como um fator positivo adicional, funcionando como um segundo gatilho de valorização, em conjunto com a esperada queda de juros nos Estados Unidos. Nesse contexto, a preservação da credibilidade institucional é fundamental para orientar as expectativas e sustentar a confiança dos mercados. 

  1. Projeções

As projeções de mercado, conforme os relatórios Focus do dia 1 de agosto de 2025 e 5 de setembro de 2025, indicam as seguintes tendências para os principais indicadores macroeconômicos:

 

  • IPCA (variação %):
    • Para 2025, a mediana das expectativas recuou de 5,07% (em 1º de agosto) para 4,85% (em 5 de setembro).
    • Para 2026, a projeção passou de 4,43% para 4,30%.
    • Para 2027, houve uma redução de 4,00% para 3,93%.
    • Para 2028, a expectativa diminuiu de 3,80% para 3,70%.
    • Essa trajetória reflete os impactos da política de juros elevados e reforça a percepção de que o processo de desinflação está se consolidando.

 

  • PIB Total (variação % sobre ano anterior):
    • A projeção para 2025 foi ligeiramente revisada para baixo, de 2,23% para 2,16%.
    • Para 2026, a expectativa passou de 1,88% para 1,85%.
    • Para 2027, houve uma pequena revisão de 1,95% para 1,88%.
    • A projeção para 2028 manteve-se em 2,00%.

 

  • Câmbio (R$/US$):
    • A mediana das expectativas para o câmbio em 2025 recuou de R$ 5,60 para R$ 5,55.
    • Para 2026, a projeção passou de R$ 5,70 para R$ 5,60.
    • Para 2027, a expectativa diminuiu de R$ 5,70 para R$ 5,60.
    • Para 2028, houve uma redução de R$ 5,70 para R$ 5,56.

 

  • Selic (% a.a.):
    • As projeções para a taxa Selic permaneceram inalteradas em 15,00% para 2025, 12,50% para 2026, 10,50% para 2027 e 10,00% para 2028.

 

  • Outros indicadores também apresentaram variações:
    • O IGP-M para 2025 teve uma revisão para baixo, de 1,33% para 1,15%.
    • O IPCA Administrados para 2025 também foi revisado para baixo, de 4,71% para 4,68%.
    • A conta corrente para 2025 apresentou uma deterioração na expectativa, passando de um déficit de US$ 60,00 bilhões para US$ 65,41 bilhões.
    • A balança comercial para 2025 teve uma ligeira deterioração na projeção, de US$ 65,25 bilhões para US$ 65,00 bilhões.
    • A dívida líquida do setor público para 2025 manteve-se estável em 65,80% do PIB.
    • O resultado primário para 2025 apresentou uma ligeira melhora na expectativa, passando de um déficit de 0,55% do PIB para 0,52% do PIB.
    • O resultado nominal para 2025 manteve-se estável em um déficit de 8,50% do PIB. 
  1. Conclusão

O cenário econômico de agosto de 2025 reflete um período de ajustes e transição. No Brasil, a desaceleração da atividade e a queda da inflação, impulsionadas por fatores como a valorização cambial e a estabilidade de commodities, criam um ambiente mais benigno para a política monetária. No entanto, a persistência de pressões inflacionárias subjacentes e as incertezas fiscais exigem que o Banco Central mantenha uma postura cautelosa, com a Selic projetada para permanecer elevada no curto prazo. O agronegócio, apesar de seu robusto desempenho produtivo, enfrenta desafios financeiros que merecem monitoramento.

No plano internacional, a credibilidade institucional do Fed é um ponto de atenção, mas a expectativa de cortes de juros nos EUA oferece um impulso positivo para os mercados globais e, consequentemente, para a bolsa brasileira. As projeções de mercado, com revisões para baixo na inflação e câmbio, sugerem uma melhora nas expectativas, mas a concretização de um ciclo de flexibilização monetária dependerá da consolidação desses fatores. O equilíbrio entre o ganho de credibilidade e o momento adequado para iniciar a flexibilização da política monetária será crucial para a estabilidade econômica nos próximos meses.

  1. Resumo

O cenário econômico de agosto de 2025 foi marcado por uma dinâmica de transição tanto no âmbito doméstico quanto internacional. No Brasil, observou-se uma moderação da atividade econômica e uma desaceleração da inflação, com as expectativas de mercado em processo de melhora. Contudo, desafios fiscais e a persistência de métricas inflacionárias subjacentes em patamares elevados demandam cautela.

O agronegócio, embora forte em produção, enfrenta fragilidades financeiras. Internacionalmente, a tentativa de interferência política no Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos gerou incertezas institucionais, mas o otimismo em relação a cortes de juros impulsionou os mercados acionários. As projeções de mercado para o Brasil indicam revisões para baixo na inflação e câmbio para os próximos anos, enquanto a taxa Selic se mantém estável nas expectativas de curto prazo.

indicadores agosto 2025

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Dannielle Porto

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