O mês de fevereiro de 2025 foi marcado por uma série de eventos e tendências econômicas tanto no cenário internacional quanto no nacional, que influenciaram diretamente o desempenho das carteiras de investimento. No Brasil, a atividade econômica apresentou sinais de desaceleração, enquanto no cenário internacional, a inflação americana e as políticas comerciais de Donald Trump trouxeram incertezas e volatilidade.
Internacional
No cenário internacional, a economia americana apresentou uma evolução da inflação que não mostra sinais de melhora. Os dados do índice de preço ao consumidor (CPI) não indicam uma clara melhora na inflação, com os quatro núcleos de inflação apresentados rodando no trimestre terminado em janeiro de 2025 a uma taxa superior à observada no trimestre maio-julho de 2024.
Apesar disso, não há sinais expressivos de enfraquecimento da atividade econômica, com a taxa de desemprego em 4%. O que se pode afirmar é que dificilmente haverá um novo corte de juros até que fique claro que a desinflação foi retomada ou que os efeitos da política monetária restritiva se tornem mais evidentes, refletindo-se em uma intensa desaceleração do PIB e em indicadores menos favoráveis do mercado de trabalho.
As políticas comerciais de Donald Trump também trouxeram incertezas e volatilidade ao cenário internacional. O anúncio de imposição de tarifas sobre produtos do México e do Canadá, a imposição de tarifas sobre importações chinesas e o programa de reciprocidade tarifária geraram incertezas e podem afetar o comércio mundial.
Na China, a economia enfrentou uma conjuntura internacional amplamente desfavorável em 2024, com a promoção dos interesses chineses no mundo enfrentando desafios cada vez maiores. Além disso, os problemas domésticos, como a transição incompleta do modelo econômico e a redução do crescimento potencial, também contribuíram para um cenário desafiador.
Apesar disso, o governo chinês lançou um amplo programa de sustentação do crescimento econômico, combinando iniciativas monetárias, creditícias, fiscais e parafiscais. Ao custo de muitos estímulos, a economia chinesa atingiu a meta de crescimento de 5,0% em 2024. Para 2025, a estimativa é de uma expansão do PIB de 4,9%, sob a hipótese de uma guerra comercial “contida” entre Estados Unidos e China.
Brasil
No Brasil, o crescimento econômico robusto de 3,4% em 2024 e em 2025 o esperado é uma desaceleração com a expectativa em 2,01% segundo o Boletim Focus do dia 07 de março de 2025. A média trimestral de crescimento do PIB ajustada sazonalmente foi de 0,9% em 2024, impulsionada pela demanda interna privada, que cresceu cerca de 5,5%. No entanto, essa expansão veio acompanhada de desequilíbrios macroeconômicos, como a aceleração da inflação e o aumento do déficit em conta corrente, que atingiu 2,55% do PIB.
A inflação de serviços subjacentes, uma medida de “núcleo de serviços”, acelerou expressivamente no último trimestre de 2024, atingindo 0,86% em janeiro de 2025, com expectativas de permanecer elevada nos meses seguintes. Em resposta a esse cenário, o Banco Central continua o ciclo de aperto monetário, com expectativas atingir um patamar de 15,00%, conforme mostrado no Boletim Focus de 07 de março de 2025.
A postura fiscal expansionista dos últimos dois anos também contribuiu para a economia operar acima de seu potencial, desancorando as expectativas inflacionárias para os próximos anos. As expectativas de inflação para 2026, 2027 e 2028, divulgadas no Relatório Focus do dia 07 de março de 2025, ficaram bem acima da meta de 3,0%.
Diante desse cenário, espera-se uma desaceleração dos setores mais dependentes de crédito ao longo de 2025. A projeção é de que o PIB desacelere nos trimestres seguintes, apresentando um crescimento médio trimestral entre 0% e 0,1%, configurando um cenário de estagnação. Para o ano fechado, o crescimento esperado é de 1,8%, com os setores exógenos contribuindo com 1,0 p.p. e os setores cíclicos com 0,8 p.p.
Os Índices de Confiança Setoriais corroboram essa desaceleração. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 1,8 ponto em janeiro, marcando a terceira queda consecutiva e atingindo o menor nível desde fevereiro de 2024. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) também apresentou uma queda significativa de 5,1 pontos, chegando ao menor nível desde fevereiro de 2023. Além disso, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) subiu 1,5 ponto em janeiro, atingindo 116,9 pontos, o maior nível desde julho de 2022.
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego situou-se em 6,2% no trimestre móvel encerrado em dezembro de 2024, ligeiramente acima da projeção do FGV IBRE. Quando dessazonalizada, a taxa aumentou para 6,5%, a primeira alta desde outubro de 2023. A perspectiva para janeiro de 2025 é de que esse número suba novamente, para 6,6%. Apesar disso, os rendimentos médios continuam em trajetória de alta considerável, embora com desaceleração da mediana.
A inflação permanece sob pressão, especialmente devido ao avanço dos preços dos alimentos. Em janeiro, sem o impacto do bônus de Itaipu, que reduziu as tarifas de energia, a inflação teria sido de aproximadamente 0,8%. Para fevereiro, o IPCA deve enfrentar pressões significativas, resultando em uma das maiores inflações já registradas para o mês, com uma projeção de 1,2%.
Na política monetária, o Banco Central sinalizou que não se afastará dos esforços para levar a inflação para o mais próximo possível da meta. Para a reunião do COPOM, agendada para os dias 18 e 19 de março, o mercado projeta, de forma majoritária, um novo incremento da taxa Selic na mesma magnitude da última reunião, ou seja, um aumento de 1 p.p., elevando a Selic para 14,25%. Quanto à reunião subsequente, nos dias 6 e 7 de maio, as expectativas permanecem bastante dispersas, variando entre novos aumentos de 0,25 p.p a 0,75 p.p.
Na política fiscal, o governo federal apresentou um pacote de ajuste fiscal no final de 2024, cujos efeitos deverão contribuir para facilitar a execução orçamentária de 2025 e 2026. No entanto, o componente político do pacote, com a proposta de desoneração do imposto de renda, teve um efeito negativo, resultando em mais juros e depreciação cambial.
O setor externo também apresentou desafios, com o saldo da balança comercial de janeiro de 2025 sendo inferior ao de igual período do ano anterior. As exportações recuaram 5,7% e as importações aumentaram 12,2%. O cenário é de incertezas no comércio mundial, com as medidas do governo Trump, como a imposição de tarifas e o programa de reciprocidade tarifária, trazendo mais incertezas à vista.
Considerações Finais
Em resumo, o desempenho da carteira em fevereiro de 2025 foi influenciado por uma combinação de fatores domésticos e internacionais. No Brasil, a desaceleração da atividade econômica, a persistência da inflação e a incerteza fiscal exigiram uma postura cautelosa. No cenário internacional, as políticas comerciais de Donald Trump e a evolução da inflação americana trouxeram volatilidade e exigiram uma análise cuidadosa dos riscos e oportunidades.